‘Hoje, basta descobrir que é polícia para matar’, diz colega de investigador assassinado

 ‘Hoje, basta descobrir que é polícia para matar’, diz colega de investigador assassinado

O policial civil Luiz Santos de Jesus, 59 anos, estava prestes a se aposentar – já tinha 29 anos na corporação. O corpo do investigador, que foi da turma de 1988, foi enterrado na tarde desta quinta-feira (15), após ser morto durante a madrugada, enquanto entrava em seu carro, no bairro da Liberdade. 

O enterro aconteceu no Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, às 14h, e contou com a presença de dezenas de policiais civis e militares – muitos fardados e usando armamentos. Luiz era lotado na Delegacia de Repressão a Estelionato e Outras Fraudes (Dreof).

Ele era casado e pai de dois filhos. Colega de Luiz na turma de 1988, o investigador Balbino comentou a situação da Polícia Civil hoje. “É muito diferente de quando entramos na polícia. Antigamente, as pessoas tinham medo dos policiais. Hoje em dia, nem se respeita mais. Basta algum bandido descobrir que a pessoa é polícia para querer matar”, desabafou ele, que trabalhou com Luiz na 2ª Delegacia (Lapinha). 

Também presente no enterro, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), Marcos de Oliveira Maurício, denunciou as condições de trabalho enfrentadas pelos investigadores. “A polícia já está revoltada com a falta de estrutura com a que tem trabalhado. Uma situação como essa só agrava ainda mais a revolta.” 

De acordo com o presidente do Sindpoc, os três pilares que sustentam uma boa ação policial são a capacitação continuada do profissional, o fornecimento de uma estrutura adequada para atender a sociedade e a valorização remuneratória do profissional. Segundo ele, isso não vem acontecendo com os policiais baianos.

Ele ainda criticou a atuação da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA). Segundo ele, o estado tem recebido, por ano, R$ 4 bilhões para investir em segurança pública, mas a insegurança não tem diminuído. “Esse dinheiro está sendo mal aplicado. A segurança pública está falida, porém, cheia de dinheiro”. Luiz é o quinto policial civil assassinado este ano, segundo o Sindpoc.

Lotado na Dreof, Luiz foi morto na entrada da Ladeira da Esperança 
(Foto: Reprodução)

Em nota, a SSP-BA informou que nos últimos dois anos foram contratados mais de  600 novos policiais civis, 1.700 PMs e 65 peritos. Além disso, cerca de duas mil viaturas renovaram a frotas das policiais e Diseps e Cicoms foram entregues pelo interior.

“O investimento em pessoal e equipamentos vem sendo feito. Falar sobre  a violência sem abordar  as suas  causas se torna uma discussão rasa que em nada acrescenta ou melhora a segurança pública”, diz o documento divulgado pela pasta.

No mesmo texto, a secretaria questiona o Atlas da Violência. Segundo ela, a realidade da Bahia não é a apresentada naquele estudo. “O tráfico de drogas é o grande responsável por 70% das mortes violentas, a luta contra esta modalidade criminosa é nacional e na Bahia não é diferente (…) Só quem não conhece a dinâmica dos crimes violentos cometidos no Brasil atribui à Bahia o status de  estado mais perigoso do país”, diz.

Por fim, a SSP se solidariza com a família do investigador Luiz dos Santos de Jesus e garante que todas as providências estão sendo tomadas para a captura dos autores deste crime covarde.

Hipótese de latrocínio
Luiz foi assassinado na madrugada desta quinta-feira (15) na Rua Lima e Silva, bairro da Liberdade, em Salvador. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o policial foi atingido quando entrava no seu veículo, nas proximidades da Ladeira da Esperança. Uma das hipóteses levantadas é a de latrocínio (roubo seguido de morte).  

Em nota, a SSP informou que a Força-Tarefa que investiga a morte de policiais, “já tem informações sobre a autoria do crime”. Durante o enterro, o delegado Odair Carneiro, que comanda a Força-Tarefa, não quis comentar o caso e preferiu não apontar suspeitos para não atrapalhar as investigações. 

Ainda assim, a SSP indica que qualquer informação que possa levar à localização dos autores do crime deve ser encaminhada através do Disque-Denúncia (71 3235-0000) ou das redes sociais (Twitter, Instagram e Facebook). A polícia investiga a motivação do crime. 

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia (Sindpoc), Marcos Maurício, afirmou que o policial foi baleado com um tiro nas costas. “Ele tinha saído de uma festa com a esposa e um casal de amigos no seu carro – um HB20 – quando estavam trafegando pela avenida Lima e Silva foram abordados por três bandidos que estavam armados e parando os carros na rua. Todas as pessoas que estavam no carro desceram. Ele não reagiu. Tomaram a arma dele e deram um tiro nas costas. O estado da Bahia está de joelhos para a bandidagem. Falta pulso para combater o crime”, disse Maurício. 

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